Fonte: O Povo
Editorial
26/10/2013
Feminicídio em Fortaleza:
inoperância da Segurança Pública
O Ceará é o 6º Estado da Região Nordeste com maior índice de violência
contra a mulher
A Fortaleza está chocada com a presumida desídia da
Polícia no caso do assassinato da pedagoga Andréa Aderaldo Jucá, esfaqueada 20
vezes pelo ex-suplente de vereador e ex-marido Alan Terceiro, no último dia 13,
no bairro Rodolfo Teófilo. Detalhes revelados pela reportagem do O POVO
demonstram que a tragédia provavelmente poderia ter sido abortada se as
radiopatrulhas acionadas pelo Ciops (Coordenadoria Integrada de Operações de
Segurança) após inúmeras ligações de vizinhos, tivessem atendido aos chamados.
Os registros do Ciops acusam os telefonemas dos
vizinhos desesperados com os gritos da vítima, quando ainda estava sendo
espancada e pedia socorro. Mesmo avisado da gravidade do que estava
acontecendo, o Ciops não conseguiu que as viaturas acionadas acorressem ao
local em tempo de evitar o desfecho fatal. Os registros indicam, claramente, a
inoperância completa de um serviço do qual depende a segurança e a vida dos
cidadãos.
Não é por outra razão que a população se sente
abandonada e os potenciais criminosos com autoconfiança suficiente para agir
com completo desprezo aos órgãos punitivos. Muitas vezes, de maneira covarde,
como no episódio em que uma mulher indefesa vê-se acuada em seu próprio lar.
Mais grave ainda porque se trata de um acontecimento ocorrido na própria
capital do Estado (onde estão localizados os principais equipamentos da
segurança pública) e não num rincão distante no Interior. Ora, se no principal
bastião da Polícia as coisas ocorrem dessa forma, o que pode esperar o cidadão
de outras áreas do Ceará?
A insegurança deixa ainda mais exposta a
vulnerabilidade das mulheres. O Ceará é o 6º Estado da Região Nordeste com
maior índice de violência contra a mulher em relação à taxa de homicídios
femininos. No período entre 2007 e 2011, foram vítimas de feminicídio, em
média, 5,22 mulheres a cada 100 mil. Os dados são do Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada (Ipea). O Ipea também constatou que 29% desses óbitos
ocorreram na casa da vítima – o que reforça o perfil das mortes como casos de
violência doméstica.
O que aconteceu no último dia 13 em Fortaleza é uma
vergonha para a segurança pública do Estado. Não é possível aceitar a
continuação desse quadro de completa vulnerabilidade da mulher cearense.
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