6 | Negócios
DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA, CEARÁ-
SEXTA-FEIRA, 4 DE JANEIRO DE 2013
Miriam leitão
Das diferenças
Não
existe torturador moderno. A expressão é uma contradição
em termos. Todo torturador é medieval, porque
só pessoas pertencentes a um tempo de trevas
podem acreditar que alguma ordem será defendida
com a dor dos outros. Existe jornalista enfático, agressivo, insistente,
irritante, bom ou incompetente, mas é só um jornalista. Ele
pode ser respondido ou ignorado.
José Genoino chegou com sua filha Mariana ao Congresso na quarta-feira.
(Que moça bonita e que fortes as demonstrações que ela já deu de amor ao pai). Claro
que seria cercado pelos jornalistas, que fariam perguntas. Se eles não as
fizessem seriam estranhos, mais ou menos como padeiros que não fazem pães. Isso
não significa que todos fizeram as perguntas cabíveis.
Pelo relato do Globo, o repórter, ao qual Genoino respondeu,
perguntou como é que eles e sentia por não poder deixar o país, enquanto ele, o
repórter, podia. Colocação inadequada. A leitura da transcrição do diálogo mostra
que o jornalista não tentava se informar, tirar uma boa resposta, usar as declarações
para esclarecer algum eventual leitor. Ele repetia "eu não fui condenado a
nada ,o senhor foi ou "eu posso deixar o país, o senhor não". Com 40 anos
de jornalismo, considero que isso não é uma entrevista. É mau jornalismo.
O problema é que, em outros momentos, e com menos
motivos para se irritar, Genoino usou a mesma expressão, dando a entender que considera
a imprensa – toda ela –um grupo de "torturadores". Apalavra é forte e
o deputado conhece a perversidade embutida em seu significado. Nenhum problema com
as críticas aos jornalistas, mas o que preocupa é o fato de que esse tipo de
reação firma a convicção de que bom mesmo é um país sem imprensa, ou com uma imprensa
controlada.
Não deveria também acreditar que essa prisão
será igual à que sofreu durante a ditadura militar. Agora, o País vive o estado
de direito, ele teve amplo direito de defesa, o Supremo Tribunal Federal julgou
de forma transparente e com base nos autos. Felizmente, ontem, ele disse que acatará
a sentença.
Genoino, por
temperamento, acha que
tem que lutar sempre, mesmo quando está em clara desvantagem, como agora. Mas desta
vez ele já foi julgado pelo STF, que decidiu que os condenados nessa ação que
tiverem mandatos vão perdê-los.
Formalmente, Genoino pode assumir o mandato, mas ele sabe
que sua decisão tem o custo de provocar polêmica. Até aí, tudo bem. O que ele não
deveria é seguir a estratégia de confrontação como Supremo que foi insinuada pelo
seu colega de partido, deputado Marco Maia. Não deveria também acreditar que essa
prisão – se ele for preso ao fim do processo – será igual à que sofreu durante a
ditadura militar. Agora, o país vive o estado de direito, ele teve amplo direito
de defesa, o Supremo Tribunal Federal julgou de forma transparente e com base nos
autos. Felizmente, ontem, ele disse que acatará a sentença, mesmo discordando.
Ele pode e deve esgotar todos os recursos de defesa,
mas seria bom senão confundisse os dois processos a que respondeu. Se o fizer, estará
informando à geração mais jovem, que não viu a ditadura, que não existe diferença entre o regime baseado
no arbítrio ,e aquele que se sustenta no império da Lei. Estará dilapidando um patrimônio
importante do país, construído como sacrifício de tantos, inclusive dele mesmo.
Esse é o ponto mais relevante de toda essa reação dos condenados
da Ação Penal 470 e seus apoiadores. Quando o ex-ministro José Dirceu convoca a
resistência contra a decisão, quando líderes petistas criticam o Supremo e o chamam
de "tribunal de exceção", quando Marco Maia avisa que dará
"asilo" aos deputados condenados, o resultado é o de enfraquecer as instituições,
e confundir as mentes dos mais jovens sobre a diferença entre estado de direito
e o governo ditatorial.
Muito mais gente do que Genoino supõe lamenta que
ele esteja nessa situação. Só que ele não é um perseguido político; ele responde pelos fatos revelados na Ação
Penal 470.
Um dos deputados suplentes a assumir o mandato, o
ex-líder sindical Paulo Fernando dos Santos, do PT-AL, chegou à sandice de
comparar Genoino a Jesus Cristo e a Mandela. "Jesus foi condenado à morte e
é referência até hoje. Mandela ficou preso por mais de 30 anos, evirou o líder que
virou". É apenas uma declaração o sem qualquer sentido, mas revela o quanto
o PT se afastou do que deveria ter feito desde o início: entende ronde foi que errou,
para corrigir. O importante, portanto, não é um abriga comum eventual repórter,
é que o comportamento dos petistas está enfraquecendo a democracia brasileira.
0 comentários:
Postar um comentário