DIÁRIO DO NORDESTE
FERREIRA
GULLAR
05.01.2013
Me engana que eu gosto
Muitos de vocês,
como eu também, hão de se perguntar por que, depois de tantos escândalos
envolvendo os dois governos petistas, a popularidade de Dilma e Lula se mantém
alta e o PT cresceu nas últimas eleições municipais. Seria muita pretensão
dizer que sei a resposta a essa pergunta. Não sei, mas, porque me pergunto,
tento respondê-la ou, pelo menos, examinar os diversos fatores que influem nela.
Assim, a
primeira coisa a fazer é levar em conta as particularidades do eleitorado do
país e o momento histórico em que vivemos. Sem pretender aprofundar-me na
matéria, diria que um dos traços marcantes do nosso eleitorado é ser
constituído, em grande parte, por pessoas de poucas posses e trabalhadores de
baixos salários, sem falar nos que passam fome.
Isso o distingue,
por exemplo, do eleitorado europeu, e se reflete consequentemente no conteúdo
das campanhas eleitorais e no resultado das urnas. Lá, o neopopulismo
latino-americano não tem vez. Hugo Chávez e Lula nem pensar.
Historicamente,
o neopopulismo é resultante da deterioração do esquerdismo revolucionário que
teve seu auge na primeira metade do século 20 e, na América Latina, culminaria
com a Revolução Cubana. A queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética
deixaram, como herança residual, a exploração da desigualdade social, já não
como conflito entre o operariado e a burguesia, mas, sim, entre pobres e ricos.
O PT é exemplo disso: nasceu prometendo fazer no Brasil uma revolução
equivalente à de Fidel em Cuba e terminou como partido da Bolsa Família e da
aliança com Maluf e os evangélicos. Esses são fatos indiscutíveis, que tampouco
Lula tentou ocultar: sua aliança com os evangélicos é pública e notória, pois
chegou a nomear um integrante da seita do bispo Macedo para um de seus
ministérios. A aliança com Paulo Maluf foi difundida pela televisão para todo o
país. Mas nada disso alterou o prestígio eleitoral de Lula, tanto que Haddad
foi eleito prefeito da cidade de São Paulo folgadamente. E o julgamento do
mensalão? Nenhum escândalo político foi tão difundido e comprovado quanto esse,
que resultou na condenação de figuras do primeiro escalão do PT e do governo
Lula.
Não obstante, o
número de vereadores petistas aumentou em quase todo o país. E tem mais. Mal o
STF decidiu pela condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares,
estourava um novo escândalo, envolvendo, entre outros, altos funcionários do
governo, Rose Noronha, chefe do gabinete da Presidência da República em São
Paulo e pessoa da confiança e da intimidade de Lula. Em seguida, as revelações
feitas por Marcos Valério vieram comprovar a participação direta de Lula no
mensalão. Apesar de tudo isso, a última pesquisa de opinião da Datafolha
mostrou que Dilma e Lula continuam na preferência de mais de 50 % da opinião
pública. Como explicá-lo? É que essa gente que os apoia aprova a corrupção? Não
creio. Afora os que apoiam Lula por gratidão, já que ele lhes concedeu tantas
benesses, há aqueles que o apoiam, digamos, ideologicamente, ainda que essa
ideologia quase nada signifique.
Esse é um ponto que mereceria a análise dos psicólogos sociais. O cara acha que Lula encarna a luta contra a desigualdade, identifica-se com ele e, por isso, não pode acreditar que ele seja corrupto. Consequentemente, a única opção é admitir que o Supremo Tribunal Federal não julgou os mensaleiros com isenção e que a imprensa mente quando divulga os escândalos. O que ele não pode é aceitar que errou todos esses anos, confiando no líder. Quando no governo Fernando Henrique surgiu o medicamento genérico, os lulistas propalaram que aquilo era falso remédio, que os compridos continham farinha. E não os compravam, ainda que fossem muito mais baratos. Esse tipo de eleitor mente até para si mesmo.
Não obstante, uma coisa é inegável: os dirigentes petistas sabem que tudo é verdade. O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação. Por isso, só lhes resta, agora, fingirem-se de indignados, apresentarem-se como vítimas inocentes, prometendo ir às ruas para denunciar os caluniadores. Mas quem são os caluniadores, o Supremo Tribunal e a Polícia Federal? Essa é uma comédia que nem graça tem.
Esse é um ponto que mereceria a análise dos psicólogos sociais. O cara acha que Lula encarna a luta contra a desigualdade, identifica-se com ele e, por isso, não pode acreditar que ele seja corrupto. Consequentemente, a única opção é admitir que o Supremo Tribunal Federal não julgou os mensaleiros com isenção e que a imprensa mente quando divulga os escândalos. O que ele não pode é aceitar que errou todos esses anos, confiando no líder. Quando no governo Fernando Henrique surgiu o medicamento genérico, os lulistas propalaram que aquilo era falso remédio, que os compridos continham farinha. E não os compravam, ainda que fossem muito mais baratos. Esse tipo de eleitor mente até para si mesmo.
Não obstante, uma coisa é inegável: os dirigentes petistas sabem que tudo é verdade. O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação. Por isso, só lhes resta, agora, fingirem-se de indignados, apresentarem-se como vítimas inocentes, prometendo ir às ruas para denunciar os caluniadores. Mas quem são os caluniadores, o Supremo Tribunal e a Polícia Federal? Essa é uma comédia que nem graça tem.
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